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  • Foto do escritorAryanne Soares

A Paixão de Joana D'Arc (1928)


O austero mestre dinamarquês Carl Theodor Dreyer realizou A Paixão de Joana D'Ark há mais de 80 anos, no entanto, poucos negariam que sua produção cuidadosa ainda representa um padrão de excelência para qualquer estudo de personagem no cinema.


O filme apresenta o martírio dessa mistura de guerreira e donzela, que carrega nas costas o peso de uma nação e o faz por meio de uma fé inabalável que se evidencia na capacidade expressiva dos olhos da protagonista. Isso se deve em grande parte, à atuação angustiada e etérea da enigmática Maria Falconetti, uma atriz de teatro descoberta por Dreyer em Paris. (Esta não foi sua estreia no cinema, porém - talvez encorajada pelos métodos de Dreyer - ela jamais fez outro filme.) Falconetti teve seu sofrimento, que é palpável na tela, refinado de modo perverso, sendo obrigada - reza a lenda - a se ajoelhar sobre pedras e assistir exaustivamente a copiões do filme até conhecer em detalhes cada traço do seu rosto.


Situando o filme na cidade de Rouen, em 1943, e baseando-se nos manuscritos do julgamento de Joana, Dreyer trabalha a partir de uma paleta de emoções brutas: as expressões de Falconetti alardeiam, em alto e bom som, a agonia presente, as glórias passadas e os medos futuros de sua personagem. Muitas vezes, ao enquadrar o rosto de Joana em close e em um ângulo ligeiramente enviesado, ele contrapõe a tristeza dela aos rostos monstruosos dos juízes e teólogos reunidos para forçar sua confissão, gerando uma atmosfera claustrofóbica e desesperadora a partir de um simples movimento de câmera. Como em filmes posteriores, entre eles Dias de Ira (1943) e A Palavra (1955), Dreyer aborda questões de fé e espiritualidade ao retratar personagens que supostamente teriam atingido um estado de graça, mas que são julgados por uma sociedade de céticos e fanáticos violentos. O filme continua sendo uma fascinante anomalia na história do cinema europeu.


Fonte: Tudo Sobre Cinema


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