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  • Foto do escritorAryanne Soares

Desencanto (1945)



A melhor das quatro adaptações de Nöel Coward que deram impulso à carreira de diretor de David Lean costuma ser elogiada (e quase sempre em tom de zombaria) como o retrato cinematográfico clássico da repressão emocional britânica. Nos últimos esses da Segunda Guerra Mundial (apesar de nuca fazer referência direta ao conflito), Desencanto infelizmente pode parecer datado: não apenas por sua entonação monótona e elitista, como também pela ideia de que duas pessoas apaixonadas devem hesitar (e até mesmo sofrer culpa) antes de irem para a cama juntas. No que diz respeito à contextualização histórica, o filme é impecavelmente preciso: era assim que as pessoas da época e dessa classe social deveriam se comportar.

Apesar de toda essa autonegação atormentada, Desencanto é um filme sobre paixão e a violência desse sentimento – sobre o modo como ele pode invadir vidas pacatas e dilacera-las. “Eu não sabia que coisas tão violentas podiam acontecer a pessoas simples”, reflete Laura Jesson (Celia Johnson), em sua narração em retrospectiva que acompanha o filme, o monólogo angustiado que ela mentalmente dirige a seu marido tolo e gentil, sem jamais conseguir se expressar em voz alta. Trevor Howard convence no papel do médico pelo qual ela se apaixona, mas é a voz de Johnson que cativa a plateia ao longo do filme; a sutiliza da sua interpretação é soberba. Em determinado ponto, ela se senta à mesa de jantar, conversando sorridente com o marido; então, quando ele se vira, ela se vê no espelho – e sua expressão mostra a consciência de que, pela primeira vez, ela havia mentido para ele – e essa mentira destruiu seu mundo. O agridoce Concerto para piano n°2 de Rachmaniov, marcando a trilha sonora, cria um contraponto emocional ideal.

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