sucesso de As três noites de Eva, o terceiro filme de Preston Sturges para a Paramount, estabeleceu sua reputação como o melhor dos roteiristas-diretores de comédia dos Estados Unidos. Charles Pike, interpretado por Henry Fonda, é um ofiologista (especialista em serpentes) emocionalmente reprimido, herdeiro de uma grande cervejaria, cuja fortuna lhe permite se dedicar a sua paixão pelos répteis. Seu romance a bordo de um cruzeiro com Jean Harrington - uma aventureira que pretende enganá-lo, mas que aprende a amá-lo no processo - , interpretada por Barbara Stanwyck, traz à tona sua emotividade oculta. Quando ele a rejeita depois de descobrir a verdade sobre o seu passado, perde sua recém-conquistada sabedoria emocional e sua inocência se transforma em presunção - o que faz com que ele seja punido, em um filme que remonta à história bíblica do Jardim do Éden.
As três noites de Eva transita com desenvoltura entre a comédia e o drama. Fonda demonstra o coração apaixonado que bate por trás do esnobismo de seu personagem, em uma combinação de ingenuidade, dignidade e vulnerabilidade; Stanwyck oscila entre a manipuladora mercenária e a romântica sonhadora, acrescentando ainda à mistura uma aristocrata inglesa afetada. William Demarest, no papel de Muggsy, o criado grosseiro de Pike, encabeça um grupo de colaboradores habituais de Sturges (Arthur Hoyt, Harry Rosenthal, Al Bridge, Victor Potel), que imprimem a assinatura do diretor a um grande elenco de coadjuvantes. Ninguém é o que parece em As três Noites de Eva. Os personagens desonestos se portam com classe: "Podemos até ser vigaristas, mas jamais ordinários", afirma o pai trapaceiro de Jean, "Coronel" Harrington (charles Coburn); enquanto o exterior fanfarrão do pai de Pike (eugêne Pallete) esconde sabedoria e sensibilidade. No cerne da comédia de Sturge está a noção quase shakespeariana de que as máscaras que usamos são a chave mais garantida para o nosso verdadeiro eu.
Fonte: Tudo Sobre Cinema
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